Leishmaniose: Precisamos mudar a cultura do matar

A Leishmaniose é uma doença provocada por um protozoário denominado Leishmania. Existe 3 tipos mais frequentes e um quarto tipo "importado", já relatados no Brasil: Leishmania amazonensis, L. infantum(chagasi), L. brasiliensis e o L. panamensis.


Esse protozoário é transmitido aos mamíferos, através da picada de fêmeas de mosquitos das seguintes espécies: Lutzomia Longipalpis - que é a mais frequente, mas pode ser transmitido também pela L. evansi e a L. cruzi. Outras formas de transmissão incluem a transfusão sanguínea, a ação mecânica da picada do carrapato e cruzamento (via sexual) e da mãe para filhotes (via transplacentária).

A doença pode se manifestar em sua forma cutânea, ou seja, através de lesões na pele, na forma visceral - acometendo diversos órgãos, ou em ambas.

O problema se agrava, pois se trata de uma zoonose, ou seja, também pode acometer o homem. Sendo fatal em sua forma visceral. Os cães são mais acometidos, porque o mosquito tem "preferencia" em picá-los. Mas gatos também podem ser acometidos, assim como cavalos, ovelhas, etc; As raças menos resistentes são Labrador, Rottweiller, Boxer e Basset.

O diagnóstico é feito pelo exame de sangue, onde se averigua valores alterados de diversas proteínas; exame de citologia(punção de medula óssea, linfonodos e colheita de material das lesões), onde é possível se encontrar o parasito, exame molecular (Reação em Cadeia de Polimerase/PCR, Reação de Imunofluorescencia Indireta/RIFI, que são muito bons mas podem gerar resultados falhos por reação cruzada) e o Xenodiagnóstico (consiste em deixar mosquitos de laboratório picar o animal, para averiguar o desenvolvimento de parasitas no seu interior - mais raro de ser feito).

Qual o grande problema nesse caso? Bom o Ministério da Saúde indica a eutanásia dos animais. Porém sabemos que da mesma forma como ocorre com o assassinato de macacos por conta da febre amarela, promover canicídeos não resolve o problema da Leishmaniose no Brasil. O que resolve é o controle de vetores - algo bastante negligenciado pelas autoridades de saúde pública.

Como proceder para seu animal não ser eutanasiado? Somente por via judicial. Infelizmente, no panorama atual, tem que ser brigando mesmo, pelo direito a vida. Mas não podemos nos esquecer que existe um outro problema:

Os exames podem dar falso positivo, assim como falso negativo diante de reações cruzadas. Medicamentos usados, doenças anteriores, enfim...é complicado indicar a eutanásia quando nem os testes são 100% confiáveis, ou nem 90%.
Atualmente, profissionais da veterinária que são conscientes do problema e extremamente responsáveis, sabendo que se trata de uma zoonose e que um animal contaminado, pode por em risco toda a vizinhança ao redor de sua casa, orientam o acompanhamento e o tratamento frequente desse animal. Então, o tutor tem que ter em mente que: o tratamento é para o resto da vida desse animal. Para que ele não tenha condições de ser picado(reinfectado) e que o mosquito não leve a doença para outros animais e pessoas. Além do mais, deve ser tratado para reduzir o seu desconforto: suas feridas, seu emagrecimento, sua perda de massa muscular, problemas oculares... O tratamento é dirigido no sentido de dar boa qualidade de vida ao animal. Leishmaniose não tem cura, ainda. E é de notificação compulsória.

O que pedimos é sempre, a divulgação e um esclarecimento maior em relação a doença, evitar eutanásias, muitas vezes precipitadas e principalmente: que o tratamento seja fornecido com um custo muito mais acessível do que temos hoje. E aí fica claro, que o controle dos vetores seja efetivo e não apenas passar propagandazinha contra a dengue no início do verão... Mas todos tem que colaborar.

Uma verdade inconveniente: aqui no município de São Gonçalo já existe casos pipocando. Assim como, há casos de Dirofilária frequentes. O lixo nas ruas só piora as condições. A despeito da morosidade na coleta de lixo, todos devemos fazer a nossa parte e fiscalizar também(denunciando) prédios públicos ou privados, abandonados, que acumulem água e matéria orgânica. Isso é muito sério pessoal. Muito mesmo. Precisamos de todos cooperando. Ensacar nosso lixo, não deixar espalhado nas vias.

Como prevenir:
 - Usar coleiras repelentes;
- Evitar que no quintal, se acumule matéria orgânica, como frutos ou lixo - incluindo as fezes dos animais - pois o mosquito macho se alimenta de matéria orgânica e vai procurar a fêmea que pode também se alimentar desse material e não apenas de sangue;
- Aplicar algum tipo de produto repelente na casinha(borrifar óleo de Neem por exemplo) ou nos locais que os animais dormem, cuidando para que não os intoxiquem;
- Evitar passeios ao amanhecer e ao anoitecer - que é o horário preferido do mosquito para fazer seu "ataque". As moitas e locais sombreados ficam cheios de mosquitos. Não permita que o seu cão fique fuçando esses locais;
- Vacine  contra Leishmania se puder (a vacina é cara, mas...melhor prevenir do que remediar);
- Se achou algo estranho no cão (nódulos nas orelhas, "ínguas", manchas de sangue na barriga, emagrecimento, crescimento exagerado das unhas) corra para o veterinário.

Mesmo que seu animal dê positivo, lute por ele! Ele não tem culpa de ter sido contaminado, assim como ninguém tem culpa de pegar uma dengue, uma febre amarela.

Saiba mais:
www.brasileish.com.br
www.leishvet.org

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